Domingo! Dia da melancolia, dia de beber até altas horas para tentar esquecer a chegada da segunda-feira, dia de reflexão! E, além disso tudo, dia de falar da boêmia! Ah, a boêmia! Só não enxerga beleza na boêmia quem é maluco, a boêmia é maravilhosa! Seu charme é único, eu sou um entusiasta da boêmia. A boêmia tem um aspecto revolucionário. Na bôemia, muitas pessoas estão colocando o dedo do meio à lógica da produtividade. Acordar cedo no outro dia? Pensar nos afazeres futuros? Autocondenação? Que nada! Muitas vezes, o policial que há dentro de nós, na boêmia, desaparece. E que bom, visto que falar em policial ultimamente está complicado. Mas vamos lá, o importante é jogar a autocondenação da ponte e fazer um “ode” à boemia. Quem entendeu, entendeu. Quem não entendeu, fica sem entender mesmo.
Se a boêmia é maravilhosa, o pós-boêmia também possui seus encantos. Afinal, depois de uma noite de remelexo, nada como um bom café da manhã. Estava em um hotel, acordei tarde, era sábado. Desci, quase às onze da manhã, para tomar aquele breakfast. Mesa posta, então vamos. Como tantas outras coisas, o café da manhã me fez lembrar da sociologia e de algumas minhas leituras. Ah, a sociologia! Parece o ar, sempre está presente. Em variadas situações do cotidiano, sempre estou enxergando ela, como é maravilhoso. Não era somente um bolo, ou somente um pão, era um bolo sociológico e um pão sociológico, eles conversavam comigo.
Lembrei do livro A Cultura-mundo: Resposta a uma Sociedade Desorientada, de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy. Também lembrei de Modernidade Líquida, de Zygmunt Bauman. Em ambos os livros, aparece a ideia de que nunca tivemos tanta abundância de oferta no mercado, que visa atender qualquer tipo de individualidade possível. Não importa o que você deseja, tem para todos os gostos. Abundância que, por sua vez, cria uma espécie de narcisismo, como colocado por Gilles Lipovetsky em A era do Vazio: Ensaios Sobre o Individualismo Contemporâneo. Narciso, aqui, no sentido de uma ânsia por si. Foco no corpo, no bem-estar individual. O consumo é pensado individualmente, pois o mercado oferece uma enorme variedade de possibilidades. O importante é gozar, se deleitar. Partilhar envolve o outro, envolve ceder, qual a validade disso em um mundo que anseia pelo eu?
Meu irmão! Aquela mesa de café me deixou confuso, desorientado. Tinha opção para tudo e todos. Além disso, o bolo de chocolate não vinha pronto, você que coloca a calda. Olha aí! Quer autonomia maior? Você faz seu bolo, do jeitinho que você quiser. Mas aqui, não erre, tá? No mundo neoliberal, a culpa vai cair somente sobre você. Aguente o fardo! O bolo está ali. Se você não tiver uma mão, por exemplo, não importa, o bolo está ali e basta querer comê-lo, preguiçoso! Afinal, as oportunidades estão aí, qualquer um pode!