É tarde da noite, domingo. Se eu quiser, posso largar de escrever este texto e deitar na minha cama. Tirar o atraso das noites mal dormidas, que dormi pouco. Mas sei lá, quem escreve acredito que vá me entender melhor. Quando às inquietações chegam, parece que algo maior nos convida para escrever, é uma forma de alento.
Passei pelo centro da cidade agora a pouco, luzes e mais luzes piscando, muita gente passeando. Eu estou lendo um livro maravilhoso, de um grande professor meu da Universidade Federal de Uberlândia, Antonio Carlos Lopes Petean. O livro se chama “A pressa gourmet e outras crônicas” e, como o próprio título já indica, é um livro de crônicas. Não bastassem as Ciências Sociais, que me deixou ainda mais observador, o livro de Petean me deixou mais contemplativo, crítico e curioso. Quando estou lendo, consigo “teletransportar” para a cena descrita, é algo mágico.
Não sei dizer se Lobão tem razão, como o título de uma das canções de Caetano Veloso menciona, mas concordo com meu professor Luciano Senna quando disse que, depois de estarmos inseridos no campo das Ciências Sociais, principalmente, passamos a observar mais quem nos serve, quem nos olha, quem nos deseja, quem nos atende nas farmácias, quem frequenta os “shoppingtemplos”, dentre outras coisas. Fiquei observando toda aquela gente, apagada diante das luzes. “Mora na Filosofia”, canção do já mencionado Caetano Veloso, invadiu meu peito e meus ouvidos. Eu sempre morei nela, sempre pedi abrigo, algumas vezes briguei com ela, mas ela está e sempre esteve aqui comigo, ainda bem. Com a referida música, veio questionamentos, que são a base da Filosofia.
Não têm como, algumas questões vêm à mente. É preciso refletir sobre o “fútil”, o que aparentemente não nos diz nada. Por que aquelas pessoas estavam ali? Eu pensei em algumas possibilidades. Como o professor Petean menciona em seu livro, que já foi citado anteriormente, “todos temos um policial dentro de nós”. Este nos censura, como fui censurado. Tenho 24 anos, pensei, poderia elaborar uma alternativa mais otimista, mas só consegui imaginar que aquelas pessoas, diante das luzes, talvez saem para iluminarem um pouco suas vidas, para enxergarem luzes brilhando em um contexto onde o trabalho é estarrecedor e onde as telas de seus smartphones iluminam os rostos de desesperança no futuro. No fim, boa parte vai voltar para suas casas, casas que não foram pagas plenamente ainda, ou que são alugadas. Vão levantar amanhã, se dirigem até o trabalho que não gostam, mas não têm como, o trabalho é que paga as contas, de casas, que muitas vezes não são delas.
Ah, vou parar de ser chato! Talvez as luzes são para comemorar a absolvição, pelo TRF-6, de todos os réus da ação penal envolvendo a Samarco, empresa responsável pela barragem rompida, no município de Mariana (MG), em 2015. Ou talvez, chamar atenção para assuntos menos importantes. Afinal, enquanto há uma escola na Avenida Getúlio Vargas, em Patos de Minas, toda enfeitada por fora, lá dentro problemas de infraestrutura, assim como quase todas as escolas estaduais, são muitos. O importante é continuar brilhando externamente, o pessoal se diverte.