Notas do Autor
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Olá meus queridos Rabbiters. O ano está passando veloz como um trem. O fluxo do tempo não para. Este mês o blog completou 8 anos felizes de existência. E pretendo mantê-lo por mais 8 se puder. Vou fazer um pedido aqui a você Se você gosta do nosso conteúdo e deseja apoiar o blog, com apenas R$ 5,00, você já consegue ajudar a manter ele funcionando, considere isso, se você achar nosso conteúdo relevante, muito obrigado. O texto de hoje é bastante significativo para mim. Ele ressoa com meus valores e meu ethos. Acho que o filme de James Gunn traz uma nova abordagem necessária ao Homem de aço. O Superman é um dos mais antigos super-heróis criados. A principal característica dele sempre foi ser um alienígena enviado a terra, o que justificaria seus incríveis poderes e sua invulnerabilidade. Essa nova abordagem vai de encontro com as ideias e posturas cada vez mais bitoladas de que o papel do homem e ser um ser agressivo, o macho Alpha. O ser dominante. Esse ser que é frio, distante, que submete todos a sua vontade por seu poder, sua testosterona em fúria. Uma ideia cartunesca que tem ganhado sequito de seguidores jovens, e não tão jovens assim entre o público masculino. Precisamos repensar qual é o papel do homem sem ter essa masculinidade toxica. O que define de verdade ser Homem em pleno século XXI. Fica aqui minha reflexão calorosa sobre o tema, um forte abraço! 🐇🎩
O novo Homem de Aço e a reinvenção da força, do masculino e do amor protetor
Vivemos tempos em que a indiferença tem peso de chumbo, e os afetos andam soterrados sob os escombros de um mundo cansado de sentir. É nesse cenário que ressurge, entre os brilhos das estrelas e as sombras das incertezas, um novo Superman(2025) dirigido por James Gunn. Esse novo herói não é mais aquele feito de aço, impenetrável e altivo, mas um Superman de carne e compaixão, que nos oferece a mais poderosa das mensagens: sentir não é fraqueza. Amar, proteger, se mostrar vulnerável e acolher são gestos de força.
Já posso adiantar para você que ainda não viu, que o filme é ótimo! Ele tem uma proposta completamente diferente dos outros Superman anteriores, principalmente em relação ao Superman de Henry Cavill dirigido pelo Zack Snyder. O filme apesar de fazer uma recapitulação da origem do Superman, ele não se delonga nestas partes porque afinal o herói já e bastante consolidado na cultura pop. O mérito do filme vem da direção e do roteiro que tornam o filme ressonante com o momento atual.
Com a interpretação carismática de David Corenswet esse Superman é carismático, ele é gentil, e acalentador, existem várias cenas em que você vai ver ele se preocupando em proteger os inocentes, em salvar um esquilo, e claro com crianças. Ele é generoso, ele se preocupa até mesmo em não matar um monstro que destrói a cidade. Esta é uma mudança radical dos ideais dos antigos Superman que eram uma arma de guerra e defensor apenas dos Estados Unidos, esse agora é o protetor do mundo! É o paladino dos fracos e oprimidos. Ele destoa e muito do homem de aço interpretado por Cavill que era frio, distante e quase inumano.
A direção de James Gunn nos entrega um herói que não se envergonha da ternura. Um símbolo que contrasta ferozmente com a masculinidade tóxica que tem ganhado palanques e curtidas, encarnada em figuras que fazem do poder um instrumento de destruição, não de cuidado. Vivemos sob o domínio simbólico de Trumps, Zuckerbergs, Musks e outros que glorificam a brutalidade, como se masculinidade fosse sinônimo de testosterona em fúria, e não de presença firme e sensível.
A Coragem de ser Ingênuo no mundo atual
O filme é discretamente politizado. Logo no início o Superman intervém em uma invasão de um país super militarizado, a Borávia a um país pobre e sem recursos militares que é Jahranpur. Detalhe que são dois países que ficam no meio de um deserto, sendo um deles aliado dos Estado Unidos. Você consegue pensar em algum conflito do mundo atual que vagamente se pareça com isso?
Existem sinalizações do filme em várias coisas da nossa realidade como o ódio nas redes sociais, a questão de o Superman ser um imigrante extraplanetário, da relação de bilionários e lobby, da venda de armas e da lucratividade, mas tudo isso é abordado apenas superficialmente sem comprometer o enredo de ação do filme.
Mas o filme não aprofunda essas discussões, apesar de elas existirem nele. O mérito do filme é a leveza dele, é a total despretensão de vincular a parte dos poderes, e da ficção com a realidade. É um filme de super-herói que não tem vergonha de ser isso. A despretensão condiz com a mensagem do filme e do próprio Superman de não ter vergonha de ser o que se é, de uma ingenuidade proposital, como o próprio Superman diz no filme,” talvez ser ingênuo e acreditar na bondade das pessoas é que seja ser Punk hoje em dia”

É por isso que este Superman importa. Porque ele rompe com o cinismo dos nossos tempos. Porque num mundo onde demonstrar sentimento é quase um pecado, ele chora com dignidade, sorri com verdade, protege com ternura. Aquele que, entre todos, seria o mais inclinado ao autoritarismo, ao domínio pelo poder absoluto, escolhe a mansidão como escudo. Ele poderia esmagar o planeta com um suspiro. Mas prefere segurá-lo com cuidado, como quem carrega uma criança adormecida nos braços.

A reinvenção do masculino: da força opressora à força cuidadora
Essa guinada ética tem muito a dizer sobre as possibilidades do masculino hoje. Sobre como é urgente reencantar o mundo com novas referências de virilidade. Não a virilidade do controle e da ameaça, mas a virilidade do abraço, da escuta, da presença. Aquele que é inquebrável se dobra para amarrar o cadarço de uma criança. Aquele que não sangra, sangra pelos outros. Esse Superman é o oposto do herói armado. Ele não quer vencer o mundo. Quer o acolher.
E nesse gesto há um eco. Um eco de Che Guevara que reverbera pelos becos das utopias possíveis: “Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás”.
Por décadas, o símbolo do Homem de Aço serviu como moldura para uma masculinidade fria, invulnerável, invicta. O herói que não sente, que não chora. Que resolve tudo com os punhos cerrados. Essa figura, embora sedutora em sua aparente invencibilidade, sempre foi uma prisão dourada. Mas agora, algo mudou. O Superman de David Corenswet é a resistência afetiva.
Ele traz uma guinada ética no modo como representamos o masculino. Em vez do “macho alfa” armado de arrogância, vemos um homem pleno na escuta, potente na compaixão e disposto a usar sua força para sustentar o mundo, não para esmagá-lo. Ele nos convida a repensar o que é ser homem. Ser homem não precisa ser sinônimo de dureza, agressividade ou repressão emocional.
Ser homem pode ser cuidar, proteger, escutar, chorar.
O novo Superman não é só um herói. Ele é uma proposta. Uma contraofensiva poética num mundo de truculência e muros. Ele é o avatar de uma utopia que muitos de nós ainda temos medo de sonhar: a de que o poder pode proteger sem agredir, e que um homem pode ser forte justamente porque se permite ser afetuoso, gentil, acalentador.
Encerro aqui, com uma frase de alguém que, entre goles de café e abraços nos filhos, sonha mundos melhores:
A verdadeira força não é músculo, bravatas nem agressão, mas é encontrar algo no mundo que você vai amar tanto, que não vai importar em dar sua vida para proteger.

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