Olá Rabitters faz alguns meses que não escrevo por aqui.Tenho vários posts rascunhados para dar continuidade, mas a cada paragrafo que venho aqui escrever apago dois. Então tornei-me turista em meu próprio blog. Como vão vocês ai de quarentena? Dando uns tapas nos irmãos de vez em quando? Querendo matar a família um pouquinho? Com saudades das professoras dos seus filhos e pensando que elas ganham pouco para aguentar eles por 5 horas seguidas sentados e aprendendo conteúdo?! Enfim brincadeiras a parte hoje vamos falar do narcisismo e da exposição das pessoas nas redes sociais.
Sociedade Liquida
A nossa sociedade já é uma sociedade que privilegia as aparências naturalmente. O primeiro post que eu fiz ao blog na data 18 de julho ( Clique aqui para acessar o primeiro Post sobre aparências) de 2018 foi exatamente sobre esse tema: Aparências. Mas foi de uma forma mais simplória e tímida. O mundo das aparências ou o mundo das sombras como diria Platão é um mundo de ilusões. As sombras projetadas na parede não são reais, assim como os perfis das pessoas em redes sociais. O perfis são projetados para passar uma imagem, a imagem projetada que queremos que os outros enxerguem de nós mesmos. Não há novidade nisso, vivemos em uma mise-en cene global onde nos vendemos por migalhas de curtidas e comentários elogiosos de seguidores em redes sociais. O objetivo? A aprovação de outros para alimentar nosso flácido ego. As pessoas já passavam muito tempo tentando preencher o vazio existencial, hoje em dia as pessoas sentam num bar para tomar uma cerveja e isso já é digno de uma selfie e stories para o Instagram! A pandemia que vivemos amplificou isso de uma forma que ao invés de nos voltarmos para dentro para autorreflexão e aperfeiçoamento ela fez justamente o contrário, foi como gasolina para apagar o incêndio!
Um dos pensadores mais influentes do nosso século XXI foi Zygmunt Bauman. Bauman criou o conceito de Modernidade Liquida. Bauman explica que os líquidos são notórios por não serem capazes de manter sua forma, a menos que sejam forçados artificialmente a estarem em um recipiente por algum tempo. Essa característica ele relacionou a nossa sociedade atual onde as relações entre indivíduos , instituições e as relações mantidas entre eles são mais efêmeras. Para Bauman a velocidade das transformações e o caráter efêmero das relações e justamente o que torna essa sociedade liquida deixando o mundo mais incerto.
As redes sociais e nosso comportamento dentro delas não está alheio a esse mundo volátil. As pessoas buscam chamar atenção para si de forma rápida pratica e como fazer isso sem dores de cabeça sem stress? Elas querem apenas consumir fotos e stories de gatos ou qualquer meme engraçado de forma rápida e pratica, isso é o fenômeno da Macdonaldização das redes sociais. É por isso que o Instagram se tornou junto do Twitter uma rede mais acessada, as pessoas não querem discussão, querem apenas passar as fotos ou stories como em um cardápio matinal, onde acompanham a vida umas das outras como stalkers silenciosos. Repare como a maioria das redes sociais os perfis/stories são dispostos como em um menu onde você pode deslizar e mudar rapidamente para o próximo como se você estivesse escolhendo um prato. Bauman também explica que o numero de ” amigos” ou seguidores é algo notoriamente característico dessa sociedade liquida, porque antigamente quebrar relações seja de amizades ou amorosas era algo extremamente desgastante e trabalhoso, havia uma sensação de rompimento e de luto. As redes sociais também deixaram isso efêmero e fácil e pratico, bastando bloquear ou excluir alguém que você não queira mais ter contato ou ver o perfil.
Alerta de Spoilers!
Black Mirror é uma série do Netflix distópica, ou seja ela se passa em uma realidade no futuro onde algo deu errado. A critica da série e fundamentada em como fazemos uso da tecnologia, e que de forma errada ela é nefasta. O nome da série Black Mirror É justamente isso: um espelho que reflete o lado sombrio e sórdido da nossa sociedade ao usar a tecnologia. Cada episódio é um curta metragem com uma história própria sem sequência, os personagens e os cenários não possuem ligação aparente.Então diferente de outras séries onde você precisa assistir desde o começo para entender a série, Black Mirror te permite pegar um episódio da temporada 5 e assistir tranquilamente e entende-lo.
Em sua maioria os episódios são bastantes pesados e desconfortáveis e nos levam a criticas profundas do nosso modelo social e da interatividade que temos com a tecnologia. Porem alguns são mais felizes e mais leves chegando a serem românticos ou engraçados. Um desses episódios é Noisedive ( Em queda livre aqui no Brasil.) Esse é um episódio que apesar um tom caricato e leve, traz uma poderosa e profunda critica: O narcisismo que as redes sociais despertam nas pessoas e como isso as esvazia e deixa um buraco difícil de ser preenchido.
Em queda livre conta a história da protagonista Lacie Pound vivida pela atriz Bryce Dallas Howard. Nesse mundo toda a sociedade vive integrada em uma rede social global onde as pessoas podem dar notas as outras de 0 a 5 estrelas, a sua média de nota indica quão respeitável, ou desejável você é criando assim um status social. O diretor Joe Wright brinca com um conceito que na realidade já é usado no submundo machista da internet, já viu aquele meme chamando uma mulher de 10/10? Pois é! Lacie começa o episódio com uma nota relativamente alta na escala 4.2, mas ela faminta por ser aceita e por ser bem recebida pelos outros, ao contrário de seu irmão Ryan com quem divide a casa. Ryan tem um índice inferior a Lacie mas ele não liga. No desejo de mudar para um luxuoso condomínio ela tenta decorrer do episódio de toda as as formas agradar os outros expondo uma imagem falsa de si mesma, objetivando ter atenção da elite social os famigerados ” quatro e tanto” para assim receber mais estrelas , aumentar a sua média e então conseguir um descontão para poder conseguir alugar o maravilhoso condomínio do seus sonhos. Parece familiar para você? Vamos seguindo!
Como um espelho sombrio de nossa sociedade as pessoas com mais destaque e com maiores notas parecem ser bastante falsas e menos autenticas, elas se revestem do charme e de toda pompa de uma corte aristocrática de um déspota real no renascimento. Os sentimentos negativos são propositalmente excluídos, todos são ” gentis” e extremamente puxa-sacos um dos outros nos personagens que eles criam para mostrar aos seus pares e assim ganhar mais estrelas.
Por trás de toda essa aparência eles odeiam, ou detestam as coisas que fazem e postam, isso fica evidente quando Lacie na lanchonete onde toma seu café matinal tira uma selfie do lanche com a finalidade de obter estrelas e respaldo. E ela elogia como ele esta gostoso, quando ela mesma vai provar ela faz uma careta feia e não toca mais no lanche. Esse momento ilustra bem a hipocrisia da relação entre aparência vs essência . A necessidade de aprovação social sempre foi algo característico da espécie humana afinal vivemos em comunidades. Mas a partir de que momento a necessidade de aprovação social começa a ser algo negativo? Onde se cruza a linha do natural e do obsessivo?!
Por trás de toda essa aparência eles odeiam, ou detestam as coisas que fazem e postam, isso fica evidente quando Lacie na lanchonete onde toma seu café matinal tira uma selfie do lanche com a finalidade de obter estrelas, e ela elogia como ele esta gostoso, quando ela mesma vai provar ela faz uma careta feia e não toca mais no lanche. A necessidade de aprovação social sempre foi algo característico da espécie humana afinal vivemos em comunidades. Mas a partir de que momento a necessidade de aprovação social começa a ser algo negativo? Onde se cruza a linha do natural e do obsessivo?!
As redes sociais nós expõe 24h por dia, esta lá a sua foto tomando café, ou histories da sua corrida matinal. As pessoas fazem da sua vida um reality show televisionado para seus vários seguidores e ficam felizes quando obtém respostas disso. É como se todos estivessem vivendo um grande Show de Truman. O Show de Truman é um filme de 1998 em que Jim Carrey e o protagonista na pele de Truman Burbank um pacato vendedor de seguros numa pequena cidadezinha costeira. Mal sabe ele que sua vida é um reality show literalmente. Umas das cenas mais Icônicas e satíricas e quando a mulher de Truman Meryl Burbank aparece fazendo propaganda para o nada e em momentos sem sentido ,de produtos que ela comprou. Isso é uma clara critica ao marketing convencional exibido em novelas e series, mas acima de tudo será que as pessoas assim como Maryl fariam propagandas sem nenhum motivo em suas redes sociais?
O rolar da pedra
O existir é uma tarefa difícil, não é a toa que Albert Camus filosofo um pensador Franco- Argelino disse: ” Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio.” Julgar se a vida merece ou não ser vivida é uma das questões filosóficas mais antigas. A busca de sentido na existência é algo natural ao ser humano. Mas apesar de parecer que Camus é um Niilista a favor do suicídio é justamente o contrário! O Mito de Sísifo é um ensaio filosófico criado por Camus para responder seu problema proposto de um possível sentido da vida. O Mito já foi citado aqui antes mas não custa relembra-lo: Sísifo um personagem da Grécia antiga foi condenado pelos deuses a rolar uma pedra morro a cima por toda eternidade. Essa tarefa hercúlea de empurrar a pedra por si só e frustrante , mas o pior era que ao entardecer Sísifo apenas podia deixar a pedra rolar montanha abaixo e assistiria ela descer, para recomeçar o processo novamente invalidando o duro esforço empreendido. Nas palavras de Camus:
Ao rolar a pedra o dia inteiro, nós ao invés de nos revoltarmos entramos nas redes sociais e postamos fotos, compartilhamos memes, e diante das mazelas e situações revoltantes que nos ocorrem nós compartilhamos foto de gatos ou se preferir a ultima série em alta na Netflix! As redes sociais podem ser um ótimo entorpecente para os Sisifos modernos que ao verem a pedra rolar morro abaixo e se revoltarem ao invés disso eles “riem de nervoso(kkk)”