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Sabe esses momentos que passam e você fica com aquele gosto amargo da experiência recente? Esse gostinho que nos faz aprender com o próprio erro

 

Era manhã, eu estava no trem pro trabalho vendo as notícias do dia, senti um cheiro de Flor de Laranjeira, havia essa garota, percebi que ela escutava uma música do Marcelo Camelo enquanto estava um tanto distraída, ela me falou _ “Oi ,Bom dia!” e eu me virei e balbuciei

_”Oi” – quase que indiferente sem tirar os olhos do celular, percebi que ela usava um jeans rasgado, suas unhas estavam por fazer, seu cabelo curto e azul que com toda certeza queria dizer tanta coisa. Ela então me disse docemente com um sorriso nos lábios

_” O dia está lindo não é mesmo?”. – Na verdade, nem tinha reparado, eu estava mais preocupado com a foto do fim de semana que tinha postado no Instagram. Eu balbuciei algo de volta, sem mostrar interesse.

Encostei minha cabeça no vidro, finalmente olhei pela janela e lá fora o sol reluzia por entre as árvores, luz refletida por entre as sombras das folhas, conseguia sentir e o calor acalentador sobre meus meus braços e face. O trem passava em uma velocidade regular, a ponto de eu conseguir ver as pessoas passando. Aquele timing perfeito como que em um filme do Ozu. Foi aí então, que pensei quem eram essas pessoas? Como eram suas vidas? Do que gostavam, será que tinham alguém os esperando em casa? Como será que preferiam o café? Eu comecei a orbitar em um mar de possibilidades infinitas.

Eu coloquei o celular no bolso e fechei os olhos e me percebi pensando na vida, nessas coisas simples e cheias de significado, sobre todas essas questões existenciais acerca de coisas banais. Me perguntei porque andava com tanta pressa, mas ao mesmo tempo tão atrasado. Havia um paradigma ali bem diante de mim, de repente questionei porque estamos tão conectados e ao mesmo tempo tão distantes.

Pensei na garota ao meu lado, na sequência de eventos que me levaram a olhar ao meu redor e que tornaram meu dia significante, depois dessa fração de minuto que se passou, olhei para o lado e ela já não estava lá, aonde ela teria ido? A vi de fora do trem andando na estação e me senti frustrado, quem era ela? Onde será que ela morava? Eu nem sequer tive a oportunidade de conhecê-la. Ela olhou pra trás nossos olhos se cruzaram e o trem seguiu, finalmente seu curso.

Vanessa Paiva

Pós-Graduanda em Direito. Cinéfila de fim de semana, rock'n'roller por essência, cozinheira de todo coração e escritora nas horas vagas.

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