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Olá Rabbiters! Que bom retornar após essa longa ausência. Estive por muito tempo afastado do blog e não foi por falta de assuntos ou sobre o que escrever. Há momentos na vida em que temos que parar e dar um tempo, refrescar a cabeça , tomar um folego para podermos enxergar as coisas de forma mais clara. Eu me afastei do blog e agora retorno. Estava com saudades de por as ideias no papel, mas me faltava algo para que pudesse finaliza-las. Hoje felizmente não faltou mais!

Quando o Tiro sai pela Culatra

Nas eleições presidenciais de 2018, eu vi uma imensa falha na postura da esquerda brasileira,pois na tentativa de desconstruir a imagem da direita e de expor todas as falhas do candidato a presidência, os interlocutores da esquerda classificavam como débeis e ignorantes as pessoas que votavam no candidato oposto, como se eles fossem incapazes mentalmente. Por mais que exista pessoas ignorantes, desprovidas de conhecimento e que estivessem votando apenas pela emoção, como massa de manobra;( e vamos deixar bem claro que isso existe em ambos os aspectos políticos) chamar uma pessoa de burra e incapaz, não vai convence-la a ficar a favor do seu discurso. Eu mesmo devo confessar que contribui e muito para essa postura. O resultado disso todos sabemos. Não quero colocar o mérito dos resultados das eleições para presidente apenas nessa atitude negligente de ofender nossos interlocutores tentando faze-los se convencer do oposto, mas sim em aprofundar em como fazemos isso e isso as vezes e é contraproducente.

Quando se entra num debate sobre determinado assunto, cada parte expõe seu ponto de vista a fim de melhorar o entendimento e então se chega a um consenso. Todavia, para que isso ocorra, ambas as partes precisam estar abertas a ouvir o outro lado e a realmente chegar a um resultado ganha/ganha. O que ocorre porém é que ao invés de buscar um consenso de convencimento de suas ideias, as pessoas tornam o diálogo numa guerra de egos onde quem está certo é o o que importa. Isso não é só prejudicial para a relação delas, como não leva a lugar algum. O motivo disso ocorrer, é simples: por mais que você ” vença” seu interlocutor com argumentos, ele inconscientemente não irá mudar de opinião, simplesmente pelo desgaste e ressentimento que você gerou nele, ao colocar suas ideias acima dele subjugando-o. Aceitar que você está certo seria o mesmo que admitir que ele é inferior a você .

Por outro lado vemos pessoas mudar de opinião o tempo inteiro de forma que parece uma lavagem cerebral. É meio que intuitivo, mas nosso cérebro opera em dois sistemas: o primeiro é rápido e intuitivo, que fica no piloto automático em “modo econômico” e o segundo é lento e eficaz, que fica em espera de realizar operações mais complexas para se resolver, já que ele gasta muita energia. Raramente quando o primeiro não da conta do recado ele pede socorro ao segundo! Esse primeiro sistema age o tempo todo.

Em seu livroRápido e Devagar duas formas de pensar” Daniel Kahneman , psicólogo renomado e ganhador de um prêmio nobel de economia aborda esse tema. Kahneman em seu livro diz que nosso cérebro é como se fosse um computador avançado, ele opera quase sempre no sistema rápido, age por associação e por intuição, porque isso é mais seguro e consome menos energia. Então ele tende a estabelecer fontes e impressões de algo e arquivar aquilo na memória, seja uma boa experiência ou uma experiência ruim. Então temos tendência em confiar em fontes e informações que nosso cérebro entende como segura. Esse processo se repete inúmeras vezes o tempo todo. Se você for uma criança e ver alguém discutindo falando de futebol tende a achar que as pessoas ficam exaltadas toda vez que falam de futebol; por associação o sistema rápido tende a associar o sentimento a esse gatilho e logo desperta uma reação no seu corpo inconscientemente. É por isso que quando alguém entra em um debate, normalmente o sistema rápido está de prontidão- pronto e operante e ele já tem uma “database”, um protocolo a seguir com todas as possíveis respostas para se defender de um “ataque inimigo”.


Mas então, eu dei toda essa explicação sobre os sistemas e ainda não expliquei porque as pessoas as vezes ficam suscetíveis a mudar de ideia muito fácil. Isso tem haver com a forma e os sentimentos que são associados as ideias que nos são introduzidas. Quando nos aproximamos de uma pessoa num relacionamento, vamos criando vínculos com essa pessoa e nos tornando cada vez mais inclinados a aceitar suas ideias por mais absurdas que nos parecessem antes. Vendedores, profissionais ligados a auto-imagem, Coachs e qualquer orador bem sucedido sabe que para persuadir sua plateia, é necessário convence-lá pela emoção e não 100% pela razão, porque por mais que seus argumentos sejam verdadeiros, se eles não despertarem nas pessoas uma empatia, uma conexão sentimental favorável, o máximo que conseguirão será o ressentimento de seus ouvintes.

Várias vezes em nosso dia a dia nos confrontamos com situações em que agimos no sistema automático. Em que xingamos nossos colegas de equipe de burros ou ruins de serviço ao invés de motivá-los a serem melhores. Quantas vezes desmotivamos nossos alunos negligenciando os, e os condenando a sua própria sorte. Quantas vezes já xinguei ou humilhei um colega de equipe num jogo online, onde por mais que ele se estivesse ali para se divertir e eu simplesmente descarregava minha frustração nele. Eu sou melhor do que isso! Somos melhores do que isso! Ao agirmos na mesma sintonia, ao retribuirmos na mesma moeda estamos sendo contraproducentes em melhorar a nós e aos outros, estamos fazendo o efeito contrário e estagnando nossas relações e conhecimentos. Quanto tempo as pessoas perdem rejeitando boas ideias ou decisões apenas por raiva e ressentimentos associados a frustrações e humilhações passadas em diálogos com outras pessoas. Quanto tempo perdura uma sensação ruim de impotência na cabeça de uma pessoa?

Ao fazermos ataques pessoais as pessoas, ou quando tentamos ridiculariza-las não só estamos trabalhando para a ideia oposta a qual tentamos combater reforçando-a, como estamos criando um ressentimento na pessoa com a qual estamos dialogando. Por mais que pareça estapafúrdio e infundado os argumentos dos nossos interlocutores não é ofendendo ou perdendo a compostura com ele que vamos fazê-los mudarem de ideia! Não é xingando alguém de burro que vai fazê-lo aprender melhor! Não é um pai batendo no filho e descontando sua raiva no mesmo que vai faze-lo mudar de comportamento e entender que aquilo é errado. Não entenda mal, é necessário sim o debate e até mesmo ser rígido e corrigir os filhos em horas necessárias. Mas para tudo isso há uma forma correta de se fazer.

Vários movimentos sociais e políticos cometem esse deslize que é punido por seus opositores. Ao agirem com radicalismo, e por muitas vezes serem bastantes agressivos em suas afirmações que poderiam ser justificáveis, não só despertam a raiva e o ressentimento de seus interlocutores, como provocam neles o efeito oposto do que o desejado. Por mais que seja divertido falar que burguês bom é burguês na fogueira nos grupos de esquerda, quase sempre obtemos o efeito oposto. Quando expomos isso numa rede social ou num âmbito onde há pessoas de variados posicionamentos políticos a tendência e de criar-se uma bolha intelectual, reforçando entre seus pares o que se pensa e reforçando a aversão entre os que pensam diferente. Porque raios um trabalhador com pouca ou nenhuma instrução vai ficar favorável a suas ideias se o que você fala ofende a tudo pelo que ele luta? E necessário certa maturidade e compostura de entender que se você for displicente em suas atitudes o efeito que obtêm é quase sempre o oposto do que você deseja. Por mais que seja legitima sua mensagem se não for abordada da forma correta perde-se todo o sentido, e provoca o efeito oposto.

Quando agimos no piloto automático, quando tentamos impor nossas ideias por tratamento de choque ou por humilhação estamos dando um tiro no próprio pé! Alexandre o Grande, não conquistou um vasto império tentando humilhar e impor sua cultura a seus conquistados, pelo contrário ele soube respeitá-los e assim não impondo sua cultura a força ganhou seu respeito e sua cooperação. Então que sigamos o exemplo desse grande líder. E necessário manter a temperança e entender que para ensinar ou persuadir os outros a fazer a coisa certa, o melhor caminho é o do bem, é o do respeito, do acolhimento e do amor! Seja o exemplo, irradie luz a todas as pessoas, elas serão atraídas a você assim como a como a Lâmpada para as Mariposas!

Fernando

34 anos, Professor, Historiador, Gosto de Jogos, Escritor. Fascinado pelo universo Geek e Pop. Leitor, fã de música e cinéfilo. Nas horas vagas quando não estou entregando a dama no xadrez eu escrevo aqui neste blogzinho! Instagram @ferthenando18 bluesky @ferthenando.bsky.social

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