“A única coisa constante é a mudança.” Esta citação pertence a um dos meus filósofos favoritos e mais influentes do ocidente: Heráclito de Éfeso. E é com ela que vamos filosofar hoje. Minhas humildes desculpas caros Rabitters, sentiram saudades? Eu também! Eu fiz exatamente o oposto do que achei que faria: ao invés de atolar o pé no acelerador e fazer vários posts agora nas férias, eu pisei no freio e fiquei em estado de hibernação por um mês. Mas é justamente sobre isso que vim falar hoje, sobre os planos, as expectativas e as mudanças.
É engraçado mas quem leu outros posts vai ver várias ideias já abordadas hoje nos posts anteriores. Vou deixar aqui linkados os posts para quem se interessar em se aprofundar no assunto. Não se esqueçam de seguir o coelho nas páginas do facebook e instagram, essa é a forma mais genuína de mostrar que você esta gostando do conteúdo e de me motivar a continuar postando.
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Um Tapete de dança
Minha filha de 6 anos ganhou um tapete de dança de natal. É daqueles tapetes que você tem que pisar nas setinhas a medida que elas aparecem na tela e, caso você acerte o ritmo e a sequência, você vai estar ” dançando”. O jogo é extremamente divertido: eu e o tio dela dançamos juntos com ela e quem mais se diverte nessa brincadeira somos nós adultos. As músicas tem nível progressivo de dificuldade e ao dançá-las você recebe uma nota que varia de F (Ruim) a AA (Perfeito). Por ser criança e estar em um estágio de desenvolvimento pré-operatório (Oi Piaget!) então basicamente ela tem dificuldades de fazer abstração e gosta de seguir as regras ao pé da letra. Então, ao invés de dançar e se divertir a música toda, ela fica preocupada em acertar para tirar uma nota maior no final da música. Eu já conversei com ela sobre que o que importa é se divertir, e se ela fizer isso e tentar acertar os passos, a nota dela vai subir naturalmente. O oposto dela é o meu caçula. Ao invés de tentar seguir as setinhas ele prefere ficar girando em círculos no tapete porque ele entende que isso é a diversão dele, o que deixa a minha filha mais velha louca. Apesar de a diferença de idade deles ser bastante curta (6 e 4 anos) eu vejo que há um entendimento diferente deles para com o que é diversão.
A vida é basicamente o que meu filho mais novo faz: O oposto de um tapete de dança! Apesar de termos as setinhas para seguir, não é necessário pisar nelas para nos divertirmos. A vida não tem um roteiro nem um manual do que devemos fazer. Mas uma reflexão mais sábia talvez seja de que não há setinhas para seguir, nós é que as escolhemos! Você pode escolher qualquer objetivo, pois não há nada definido apenas possibilidades. Você pode se graduar em uma faculdade, ou apenas concluir o ensino médio, você pode escolher ser professor, ou pintor, ou dançarino, ou empresário, qualquer profissão: há milhões de opções do que fazer para ser feliz. Obviamente que algumas coisas o colocam mais próximo de seu objetivo escolhido, então se você estabelece que quer tirar a maior nota na música do joguinho do tapete, é bom você fazer como a minha filha e pisar nas setinhas no tempo certo. Se você quiser ser um bom nadador, é preciso fazer o que fazem os bons nadadores e dedicar tempo horas de prática e esforço para alcançar essa meta.
Essa premissa de que primeiro existimos depois escolhemos o que vamos fazer é a frase que define o existencialismo, linha filosófica já muito falada aqui no blog e representada por vários filósofos, tendo como grande expoente Jean Paul Sartre. É preciso existir primeiro para depois escolher. Uma alface já é uma alface antes mesmo dela brotar e não pode ser outra coisa que não uma alface. Parece idiota dizer isso, mas ao contrário da alface podemos escolher o que vamos ser, não há um manual com metas, ou um destino traçado rigoroso onde se eu não seguir tal coisa eu vou queimar no fogo do inferno! Nós valorizamos as coisas de acordo com nossas metas e objetivos que nós escolhemos para nós então, se você é feliz cantando e dançando empenhe para que sua vida gire ao redor disso.
Uma espiral temporal
Quão curioso é o tempo. Já citei Santo Agostinho em um vídeo sobre o tempo para o blog no Youtube, e essa citação continua fantástica e intrigante.
“Haveria sentido em falar-se em tempo, se não houvesse alma?”
Agostinho de Hipona.
O tempo só é compreendido se for visto a partir de uma perspectiva humana, pois o passado, o presente e o futuro só existem para nós porque somos dotados de medos, arrependimentos e esperanças. Com isso temos sempre uma falsa impressão de que o tempo é uma linha progressiva e contínua, sempre indo em direção a um futuro glorioso e feliz. Não atoa, é do filósofo Immanuel Kant a ideia de que encaminhávamos para o fim da nossa História, em uma sociedade universal e cosmopolita, em que teríamos instituído uma sociedade plenamente racional e dispersa de contradições. Essa ideia ficou mais famosa à partir da ótica positivista de Auguste Comte, estando enraizada em nosso pensamento moderno até hoje (olá bandeira nacional!!).
Ao meu ver, a vida não é uma escadaria para a felicidade, e nem uma Infinita Highway. A vida é mais como uma estrada do interior de Minas: muitas vezes esburacada e com uma pista só, ela segue muitas vezes acompanhando as serras sinuosas, com subidas e descidas desconfortáveis, e cheia de curvas.
Não existe um manual de como deve-se viver, não existe um artigo escrito, nem sequer um parágrafo em que esteja especificado que em momento X da sua vida você tem que ter atingido todos os seus objetivos almejados. Porque não temos a menor ideia de quando é que ela vai terminar. A despeito da certeza da finitude, entretanto, temos a maior beleza da vida, que é não ter certezas ou objetivos concretos, mas sim oportunidades. É você quem escolhe, em um infinito mar de possibilidades, o que você quer fazer da sua vida. E diante desse abismo infinito é normal nos abalarmos e congelarmos de medo, eventualmente pensarmos que somos incapazes de realizar os nossos sonhos. Mas é preciso encarar o abismo e construir a sua própria espiral temporal porque, no final não vai se tratar do destino e sim da jornada que você percorreu! Então, entre cozinhar um waffle, dançar num tapete de dança ou fazer um doutorado, tudo isso são apenas setinhas de um jogo de dança, cabe a você seguir essas decisões ou não. Mas então fica o convite para a vida e para a dança, vamos dançar?
Parabéns pelo excelente trabalho Fernando, muito bom mesmo.