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Olá  Rabitters como vão vocês? Eu fico feliz que  o post do João gostoso tenha motivado as pessoas, e  que tenha aberto um novo leque de  possibilidades assim como abriu para mim. O post de hoje vamos dar continuidade ao post anterior que abordou a linha filosófica do  existencialismo, porém vamos introduzir outros conceitos: Virtù e Fortuna! Segue o link do post anterior para quem não leu: Serei eu um João Gostoso?
Se você já leu o Príncipe de Maquiavel esses conceitos lhe são familiares, se não acomode-se na sua cadeira, pegue um café bem quentinho e vamos escorregar pela toca do coelho!

Death and Taxes

“Só há duas certezas na vida, morte e impostos” a declaração de Benjamin Franklin é bastante clara e ela deixa um buraco enorme a se explorar. Existe um constante movimento de sazonalidade no devir, um dia estamos por cima outro estamos por baixo, um dia quente, outro frio. O mundo girando e as estações  também. O devir é um tema antigo da filosofia, representado na clássica frase de Heráclito de Éfeso: “Não se pode entrar no mesmo rio duas vezes, pois  quando se entra nele as águas já não são as mesmas, e o próprio ser já se modificou.”  O acaso  é uma série de eventos aleatórios  que  dado determinado momento nos favorecem ou nos prejudica a esse fenômeno nós chamamos de sorte.

 

A roda da fortuna

Um dos símbolos mais famosos da sorte na idade média além dos dados, é com toda certeza a roda da fortuna. Um objeto que determinaria a sorte do individuo girado por divindades ou forças superiores. A roda da fortuna seria a causa de catástrofes, secas,  farturas, e todo tipo de eventos que ocorrem ao indivíduo. A roda da fortuna inclusive ganhou uma carta de Tarô do mesmo homônimo, ela representa o acaso e todos os viés positivos e negativos que alguém pode ter na vida. Existe uma discussão filosófica teísta sobre a providência divina e sobre os fatos que ocorrem em nossa vida serem ou não parte de um roteiro já programado anteriormente a ela. Essas pessoas fatalistas acreditam que tudo esta fadado a um roteiro, que estamos condenados a seguir um script como em uma peça de teatro, onde apenas interpretamos nossos papeis. Na idade média essa ideia vigorava bastante forte, a sociedade medieval era estratificada em classes. Um camponês nascia camponês e morria assim, a igreja Católica propagava a ideia de um mundo do cosmos, onde as pessoas ocupavam o devido lugar, uma função para qual deus tinha atribuída cada um, e não cabia a elas alterar essa função e apenas cumpri-la para que o mundo continuasse em bom funcionamento. As pessoas atribuíam quaisquer desgraças ou desventuras a entidades superiores a elas, na maioria das vezes a deus, como se elas estivessem sendo castigadas por um crime cometido em outra vida. Deus seria a causa de todo sucesso enquanto o diabo seria a causa da miséria humana. Esse pensamento os colocava como folhas ao vento, espectadores de suas próprias vidas onde apenas Deus e o diabo determinavam seus rumos, como se ambos jogassem um jogo de dados!Acredite ou não que esse pensamento ainda perdura ate hoje.
O Príncipe é o começo
Foi no fim da idade média e no inicio do renascimento o pensamento começou a mudar.  As ideias de Nicolau Maquiavel  escritas em O Príncipe libertaram as pessoas desse paradigma e permitiram elas buscar seu próprio destino, afinal se o individuo não estava preso a uma corrente transcendente, se sua vida não tinha um plano a ser seguido, o mesmo estava livre para buscar o que bem entendesse! Assim  nascem os primeiros empreendedores, pessoas ousadas que iam contra a norma vigente e criava algo novo. Isso foi importantíssimo para o capitalismo e para a transformação do mundo como é hoje.

Após três séculos dessa libertação inicial o homem era livre de suas amarras mentais, de seus paradigmas existenciais não existia uma força  superior manipulando mais sua vida como uma marionete, foi então que Friedrich Nietzsche faz sua famosa afirmação : “Deus está morto.” Quando Nietzsche diz isso ele se refere a um modo do homem pensar que estava morrendo.  O modo idealista de conceber as coisas, ao fazer isso ele declara essa ideia de fatalismo e de valores transcendentes morta e que agora o homem estaria livre para criar seus próprios valores e superar assim mesmo tornando-se o super- homem (Übermensch). Então pode se dizer que nascia uma ideia que mais tarde vai se consolidar numa linha filosófica já abordada aqui o Existencialismo.

O Existencialismo contrapõe  o fatalismo. Primeiro existimos depois definimos o que fazer de nossa vida. Se sou um professor foi porque eu escolhi ser com base nos valores adquiridos durante a vida e não porque uma força maior previu isso antes de meu nascimento.  Essa é a beleza e a maldição do existencialismo, apenas o homem é responsável por suas escolhas e ninguém mais! Existem sim os fatores externos que não temos controle,  porem temos controle sobre nos mesmos. Podemos não controlar uma catástrofe, acidentes, ou um fato triste mas como reagir a eles nós controlamos! Isso nos dá uma angústia tremenda porque existe a tal da escolha. Ao escolhermos uma opção descartamos inúmeras outras  e nos acorrentamos a suas consequências para o todo sempre! ” Viver é equilibra-ser entre escolhas e suas consequências.” Jean Paul Sartre

 ” Você é livre para fazer suas escolhas,  porém é eterno prisioneiro delas!”_ Pablo Neruda

 

A ideia fatalista  de um plano superior a nós e retratada em várias obras, inclusive no filme Agentes do Destino(2011). No filme David Norris (Matt Damon),  é um carismático congressista americano que parece destinado ao estrelato político, tem um caso amoroso com a bailarina Elise Sellas (Emily Blunt), mas há forças misteriosas e circunstâncias estranhas que impedirão esse romance. As forças misteriosas são os Agentes do Destino, entidades que colocam pequenos imprevistos, coisas que parecem obras do acaso de modo a modificar toda uma cadeia de escolhas  de uma pessoa , de forma a modificar toda uma vida! Existe outro filme  que retrata isso muito bem o  Efeito Borboleta(2004), onde o roteiro brinca com a famosa frase que o bater de asas de uma borboleta no Brasil leva a um Furacão no Japão.

 Dois dos principais conceitos de Maquiavel abordados em O Príncipe  são Virtù e Fortuna pela similaridade das Línguas Latinas fica bastante fácil entender os conceitos, mas é importante aprofunda-los para entender melhor. Os fatos aleatórios os quais não temos controle Maquiavel chama de Fortuna.  E as habilidades intrínsecas nossas incluindo nossa tomada de decisões Maquiavel chama de Virtù. Seria possível fazer uma tradução grosseira dos dois conceitos  para Virtude e Sorte. O autor explica que para se chegar ao sucesso o governante deveria ter essas duas qualidades Virtù e Fortuna combinadas. Todavia ele destaca que se houvesse a prioridade de importância de uma sobre a outra,  a vencedora seria a Virtù. O motivo diz o autor é que pode-se  por obra do acaso conseguir herdar um reino ou aproveitar um momento favorável e conquistar algum, mas sem a Virtù necessária o seu governante jamais conseguirá manter o reino sob seu poder. As similaridades com a realidade são vastas, podemo usar isso para alguém que ganhou na loteria e não soube administrar o dinheiro e tornou-se pobre novamente.  Não é atoa que Maquiavel e lido por executivos, profissionais da área de marketing e políticos o que o torna uma leitura universal!

Não é preciso ir muito longe para ver que as bases do existencialismo está nas escolhas e que nossas escolhas formam nossa Virtù e nossa Virtù  também forma elas! Você pode escolher viver a sua vida de peito aberto, lidando com o fracasso de suas escolhas e os sucessos e assumindo ambos como fruto  de suas escolhas. Ou pode esconder-se atrás de uma Muleta Metafísica de um plano superior transcendente guiando sua vida  com um propósito inerente assim como faziam na idade média, esta é a beleza da escolha, há sempre mais de uma opção a se seguir, milhões de portas a se abrir, milhões de universos a surgir! Mas independente do que eu disse lembre-se que não existe nada prévio a sua existência te dizendo o que deve acreditar ou o que deve fazer, a escolha  é sua. ” A vida não oferece promessas nem garantias. Apenas possibilidades e oportunidades.”

 

Fernando

34 anos, Professor, Historiador, Gosto de Jogos, Escritor. Fascinado pelo universo Geek e Pop. Leitor, fã de música e cinéfilo. Nas horas vagas quando não estou entregando a dama no xadrez eu escrevo aqui neste blogzinho! Instagram @ferthenando18 bluesky @ferthenando.bsky.social

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