” Nós somos os exploradores, os inventores, os arquitetos da mudança. Construtores de um mundo melhor! Nós lutamos. Nós sonhamos. Nós Inspiramos!” A citação inspiradora acima foi tirada do fabuloso trailer de divulgação do jogo Civilization VI da empresa de jogos 2k. Esse é um tipo de jogo que amo jogar. É um jogo de estratégia onde você começa com poucos aldeões e funda sua primeira e pequenina cidade e a medida que o tempo vai passando, sua civilização vai progredindo e se desenvolvendo através da ciência, da cultura, da economia e militar. Não se trata apenas de construir sua civilização, mas sim sobre conhecer história e a cultura humana.
Olá Rabitters, tudo bem com vocês? O post de hoje é sobre a vontade ativa e a fé racional; um conceito muito entranhado nos vilões das histórias em geral. Mas antes de adentrarmos nesse pensamento é preciso retomar suas origens lá na idade média. Então aconchegue-se, pegue seu café quentinho e vamos escorregar pela toca do coelho!
Uma Mudança na idade média
Todas pessoas que estudam na área de ciências humanas, são amantes da ação do homem sobre o tempo. “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”. Essa frase é do filosofo grego e sofista Protágoras. Ela é maravilhosa para explicar o que é o Antropocentrismo. Na passagem da idade média para o renascimento há uma mudança significativa do pensamento do ocidental. O homem desloca o foco de seu pensamento da religião e de Deus para si mesmo. Não que a religião ainda não tivesse importância na vida das pessoas, mas agora ela deixava de ser a razão central do pensar e da organização intelectual. É nessa época que há significativas descobertas cientificas, como por exemplo, que a terra gira em torno do sol e não o contrário como imaginava-se antes. Antropocentrismo é a filosofia ou visão do homem como centro do universo, o homem como o senhor de seu próprio destino!
Essa mudança de pensamento, alterou radicalmente os rumos da civilização ocidental. Na idade média a sociedade era divida em classes: Nobreza, Clero e Camponeses. As pessoas nasciam e morriam numa determinada classe, sem possibilidade de ascensão entre as mesmas. Havia um determinismo do pensamento religioso cristão de que todas as coisas eram vontade de deus e de que cada um estava em seu devido lugar. Esse jeito de pensar governou praticamente toda a idade média. É importante lembrar que a Igreja católica era a maior entidade nessa época, e que seus dogmas guiavam a vida de praticamente todos os europeus. A terra era o centro do universo com o sol e a lua orbitando ao redor do planeta que era um plano achatado. Não havia para muito para onde fugir desse pensamento e os que discordassem eram queimados na fogueira por heresia. Cientistas, mulheres eram comumente queimados como praticantes de heresia, essa era a inquisição.
Ao propor esse deslocamento de pensamento o homem passa de um ser subjugado ao destino, a seu próprio senhor. E no final da idade média com essa simples mudança de pensamento, começa-se então, a desenvolver a ciências e as artes. Começa-se também o acumulo de capital criando assim os primeiros burgos, que seriam mais tarde as primeiras cidades. Com comércio de uma nova burguesia se desenvolvendo e surgem os Mecenas patrocinando os artistas e dando condições para eles desenvolverem magníficas obras de arte. Esse período, não atoa é chamado de Renascimento. Renascimento das artes, da ciência mas acima de tudo da razão clássica Greco-Romana. A razão guiando o homem e o homem como medida de todas as coisas. É então nessa conjuntura que nasce o conceito de fé racional.
Fé Racional é o uso da razão para o entendimento da fé. Um dos primeiros filósofos e teólogos mais conhecidos que propôs isso foi São Tomás de Aquino em sua obra Suma Teológica. Aquino inspirou sua filosofia em Aristóteles, e sua obra ficou conhecida como Aristotelismo cristão. Mais tarde Martinho Lutero irá escrever:
A ciência sem fé é loucura, e a fé sem ciência é fanatismo
Martinho Lutero.
A base da fé racional consiste em tomar todas as atitudes racionais cabíveis, fazer todo o esforço ativo possível, e quando se esgotarem as possibilidades acreditar que mesmo que pouco provável as coisas aconteçam a seu favor. Isso é a base do empreendedorismo, os bravos portugueses ao se lançarem ao mar o faziam com os melhores preparativos para as viagens, eram excelentes navegadores, tinham conhecimento de parte dos trajetos, mas todavia para cruzar o bojador foi preciso acreditar nas probabilidades ínfimas, acreditar no “quase impossível”. Existe um tipo de pensamento atualmente que lembra muito o pensamento medieval, é aquela história de ” foi Deus quem me deu”. Porque Deus, se existir, uma força onisciente, onipresente com bilhões de galaxias e seres vivos, daria atenção especial para você? O que te torna mais importante do que os outros que estudaram e estão sentados no teu lado quando você esta fazendo uma prova de vestibular? Por que essa força universal burlaria suas leis para conspirar apenas ao seu favor? Parece muito a história de um desenho animado que todos já vimos quando crianças.
Eu sempre adorei torcer para os vilões, porque os vilões eram esforçados, eles usavam da inteligência, tinham personalidade profunda e maquinavam planos. Com o Coiote não é diferente! O Coiote apesar de sua incrível inteligência e do uso avançado de tecnologia nunca conseguia pegar o papa-léguas, isso porque tudo parecia conspirar contra o pobre coitado! As leis da física chegavam a mudar, apenas para que o coiote se desse mal! Já em Thundercats Mumm- Rá tramava os mais maquiavélicos planos contra Lion e seus amigos, mas no final por um golpe de sorte a espada justiceira brilhava e salvava o herói magicamente! Existe um vídeo de um dos meus canais favoritos do YouTube falando apenas disso e vou deixar ele aqui linkado para quem quiser ver mais.
Na vida real as pessoas se esforçam todos os dias, fazem planos, trabalham duro, passam por problemas e dificuldades tanto ou as vezes mais que você. É no minimo egocentrismo achar que todo um universo conspira ao seu favor para você passar numa prova em detrimento de outros. É preciso aceitar que diferente do Coiote as coisas não conspiram contra você e que diferente do Papa-léguas elas nem sem sempre vão conspirar a seu favor. É aí que entra o conceito da fé racional; mover cada átomo do seu ser e do seu cérebro em prol de algo que acredite. É entender que quando algo estiver fora do seu alcance é preciso acreditar que você será recompensado pelo seu esforço feito. Como diria minha mãe: ” Confie em deus, mas tranque seu carro!”
A oração da serenidade de São Francisco de Assis já foi citada aqui no blog em outro post, mas ela é o exemplo perfeito e merece ser citada aqui novamente.
Esse foi o pensamento que moveu as pessoas da idade média para o Renascimento! Entender que nem tudo está nas mãos do destino (Deus) e que a maior parte de esforço quem tem que fazer somos nós, ou seremos servos, conformados com nossas condições .
Quando Friedrich Nietzsche, célebre filósofo alemão afirma no século XIX a sua famosa e polêmica frase “DEUS ESTÁ MORTO”, ele se referia a esse tipo de pensamento medieval onde o homem erguia ídolos (ideias) e guiava toda sua vida em prol de uma ideia. Ideias essas que poderiam não se concretizar nesta vida, mas que tinha efeito imediato sobre a vida daqueles que tinha crença nelas. Subserviência e completa resignação em face de todos abusos e misérias causadas a essas pessoas. Nietzsche ao dizer que Deus está morto propunha que esse pensamento havia morrido e que agora o homem era livre para construir a si mesmo e trilhar seu próprio caminho. A quem interessa que você fique calado diante das injustiças? A quem interessa seu completo consentimento das misérias humanas e sua passividade diante dos teus problemas, ou da tua condição de escravo?
Entender que somos uma parte ativa de nossos problemas e que podemos e devemos lutar para mudar o que é possível é o primeiro passo para alcançarmos uma alta consciência e elevarmos nossa mentalidade. Devemos agir e fazer os melhores preparativos sempre! O universo conspira em favor daqueles que se movem. Mova e o universo se moverá também! É por essas e outras que eu sempre torço pelo vilão! Porque o vilão nos ensina a ser pragmáticos, a ter paciência, a estudar, a usar o melhor uso da tecnologia a perseguir nossos ideais e se não der certo, paciência! Aprender com os vilões para que nos tornemos os arquitetos da mudança e construtores de um mundo melhor!