
SINOPSE: As crônicas de quatro anos na vida de Julie, uma jovem que navega pelas águas turbulentas de sua vida amorosa e luta para encontrar seu caminho profissional, levando-a a encarar de forma realista quem ela realmente é.
HEY, RABITTERS! Como cês tão? Eu sei, eu sei, eu prometi estar aqui toda sexta-feira, MAS, com a correria do dia a dia, não tenho conseguido escrever para vocês. Já adianto que continuarei com os posts de melhores filmes por streaming. Só vou fazer uma pausa nos posts porque tenho revisitado esse filme várias vezes ao longo dos meses, o Fernando já nem aguenta mais me ouvir falar sobre ele hahaha
OLHA, DE ANTEMÃO AVISO: ASSISTAM O FILME PRIMEIRO PARA QUE NÃO RECEBAM SPOILERS, talvez essa resenha faça mais sentido para você (ou não também). Esse filme é indicado PRINCIPALMENTE PARA VOCÊ, MILLENIAL! Tá lá no PRIME VIDEO, entrou há pouco tempo e te recomendo fortemente assisti-lo. Ele teve 2 indicações ao Oscar e Renate Reinsve (Julie) ganhou melhor atriz no Festival de Cannes. Segue o trailer caso queiram PARAR por aqui. Depois não vão dizer que eu não avisei, hein?
Notas:
ENTÃO VAMOS LÁ, você foi alertado e, se você chegou até aqui, bora para as primeiras impressões.
O filme tem 12 capítulos, um prólogo e um epílogo. O fato de o filme estar desenvolvido em atos é a forma mais íntima de compartilhar com o telespectador todo o percurso de Julie. O filme, em grande parte, evidencia os dilemas de nós, millennials, rumo ao tão sonhado amadurecimento. Assim, claro que Julie vive em um país do “Primeiro Mundo” e começa o filme como uma aluna de Medicina, o que dá a entender que ela pertence à classe média. Obviamente isso lhe possibilita mudar sua rota com mais “facilidade” do que muitos de nós, brasileiros, que temos que correr atrás do nosso. Contudo, isso não impede que nos conectemos a ela.
Veja bem, Julie não está imune ao caos, insegurança e fragilidade que marcam a busca por sentido e identidade. Isso acarreta muitas decisões e quem vê de primeira pensa: “Nossa, como ela é capaz de cometer tantos ‘erros’?” Essa garota é mimada, só faz o que quer!” Eu te pergunto, e nós, aqui, do outro lado da tela, estamos imunes a cometer erros?
E vou te dizer mais, é isso que gosto nela, sua imperfeição, suas falhas, a forma como encara uma sociedade do padrão e diz: “Ei, eu vou por ali”. Seu regozijo imprime inquietude, e isso, meus caros, é lindo de se ver. Ela está lá tentando, claro, e por que não dizer fugindo do que dói também? Esse caráter humano, quase existencialista, tem sua beleza. Me lembro de Sartre sempre que vejo esse filme.
Fica claro no filme e constatável também pela nossa experiência millennial que estamos sempre absortos em informação, acreditamos que inúmeras são as possibilidades e promessas de um futuro cheio de prosperidade e realização profissional. Eu logo penso: Será mesmo que estamos vivendo tudo aquilo que nos foi prometido ou isso é apenas uma ilusão? Logo me vem à mente o fenômeno do presenteísmo de Michel Maffesoli, em que, no passado, se pensava no futuro, e hoje, já não se pensa nesse futuro, e sim no presente.
Em outras palavras, houve uma época em que havia um espaço em que o ser humano sonhava com o futuro, só que esse futuro chegou e ele em nada se parece com o que se sonhou. Vi isso num vídeo do Guilherme Terreri Lima Pereira (A famosa Ritinha Von Hunty) e achei sensacional. Então, nós, da geração millennial, crescemos com esses sonhos e quando o tempo chegou, o mundo se apresentou completamente diferente. Eu percebi isso no filme, então, por mais que as pessoas sejam diferentes, algumas experiências são comuns.

Se você reparar bem, o mundo se desfez aos nossos olhos, todas as promessas de estabilidade se chocaram com a dura realidade repleta de incertezas. Será que a busca de sentido e pertencimento incessantemente buscada pela geração millennial não é inalcançável? Já parou para pensar nisso?:
Ser feliz, pleno, estar no emprego dos sonhos, casamento ideal, corpo perfeito, carro ideal, ter filhos, fazer faculdade, mestrado, doutorado, correr uma maratona, estar com sono em dia, comer de forma mais saudável, fazer terapia, ser espiritualmente equilibrado, viajar 3 vezes ao ano e ainda ser engajado politicamente, socialmente e isso tudo até os temíveis 30.
Você irá perceber que Julie, a todo momento, tenta provar para o mundo que seus sentimentos precisam ser exteriorizados para poder se fazer verdadeiramente compreendida. Ela deseja se conectar e acredita que essa conexão só é possível por meio da expressão sincera de suas emoções e contradições. Isso fica claro, principalmente em relação ao pai.
Em sua tentativa de ser vista e entendida, Julie revela o desejo profundamente humano de afirmar a própria existência diante do outro, como na tentativa de ser vista pelo pai. Ela se liberta do projeto de perfeição, da meta que sempre precisa atingir. Nisso, meus amigos, Julie é expert. Ela é falha, ela machuca, ela sangra, ela faz sangrar, ela não sabe o que quer. Nela, a incerteza pulsa. Sua inquietação a torna, assim, humana.
São várias tentativas de assumir o controle da própria vida. Os parceiros sempre acompanhavam as fases da vida que ela encontrava. Ela abandonou a “certeza” da medicina e da psicologia pela fotografia. Se submete ao emprego temporário, conhece um artista mais velho e se apaixona por ele. Ela se envolve com ele, mas fica claro no capítulo que a certa previsibilidade de planos que seu namorado tem quanto ao futuro é algo que lhe incomoda, talvez em razão da sua própria indefinição.
O tédio é algo bastante corriqueiro na vida de Julie, a sensação de que algo irá acontecer em sua vida a todo momento se faz presente ao longo dos capítulos. Ela sempre está esperando por algo que ela vai perceber só mais à frente, que é retomar o protagonismo de sua própria vida. Julie está sempre em busca de uma sensação que deveria viver uma vida única, especial e cinematográfica, cheia de emoções, mas, quando a rotina se apresenta, a frustração toma forma.
A conexão da protagonista com a geração millennial se apresenta em razão do choque entre a ilusão de ser único e a realidade de ser comum, um retrato dolorido para nós que crescemos entre promessas grandiosas e um mundo que não cumpre nossos roteiros.

Esse filme, apesar de abordar com leveza a vida dela, tem um cunho político e questionador sobre o papel da mulher extremamente relevante. No fim, ela entende que cabe a ela se salvar da sua própria confusão. De certo modo, ela percebe que deve salvar a si dos próprios dilemas, ela é consciente do mal que impõe a si e aos outros. Para alguns, sua conduta pode soar egoísta, quando ela se sente aliviada, mas, no fim, ela sabe que é ela mesma seu algoz.
As emoções que ela busca não estão em ser a número um, em ter estabilidade, em ser esposa, em ser mãe, em ser filha, e sim dentro dela, e a forma de expressar seu olhar e como ser enxergada é pela fotografia.
Fica claro que é por meio de suas escolhas que Julie se constrói e reconstrói. Julie encarna essa liberdade radical: ela muda de curso, de profissão, de amores, de rumo, buscando compreender quem é a cada nova decisão. Em vez de seguir o caminho socialmente esperado, o risco da incerteza a torna autêntica. E é justamente nesse movimento, entre tentativas e fugas, que se revela sua dimensão mais existencialista.

O filme oferece um alívio ao desmantelar a narrativa do sucesso linear, sugerindo que não apenas é normal estar perdido aos 30 anos, mas que essa busca incessante e confusa é, na verdade, a própria experiência de viver. Ver a própria incerteza retratada com tanta beleza e ironia transforma o desespero pessoal em um sentimento universal e aceitável.
O título é uma ironia que ressoa com a tendência da Geração Z de se julgar de forma hipercrítica. No universo digital, onde todos performam vidas perfeitas, o fracasso de Julie em “ter a vida resolvida” aos 30 anos poderia facilmente fazê-la sentir-se, de fato, a pior pessoa do mundo. O filme, contudo, a humaniza. Ao expor suas falhas, seu egoísmo e sua incapacidade de se comprometer, ele permite que o espectador chore por Julie, abordando a complexidade dos relacionamentos contemporâneos, marcados pela fluidez e pela dificuldade de conciliar o desejo de liberdade individual com o compromisso.
Por fim, o final agridoce e não-resolvido da história de Julie é o ápice da catarse para a audiência jovem, pois afirma que não existe um final definitivo ou glorioso. Em outras palavras, Julie sente essa angústia constantemente, de estar onde não se cabe: cada decisão sua traz a dúvida, o medo do arrependimento e a sensação de estar “fora do lugar”. Ainda assim, ela escolhe e, ao escolher, afirma sua existência.
Nota: 9,5/10
É isso, rabiters, espero que tenham gostado! Tenham uma ótima semana. Besos e até próxima!
