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Notas do Autor

Olá meus queridos leitores! Eu fico muito feliz em contar que o meu ultimo post sobre Arcane foi um sucesso tremendo! Muitas pessoas se identificaram com a crítica e com a série e vieram me parabenizar, várias romperam a barreira do preconceito e começaram a assistir a mesma por incentivo da crítica, e uma delas foi a minha Mãe! Esse post sobre Arcane era pra ter sido meu último, eu estava desanimado com os rumos que esse blog estavam tomando, e estava pensando em descontinuar ele. Alguma coisa na minha intuição me disse para não desistir, e amigos me motivando os 2L (obrigado Laís e Luiz) me fizeram escrever a crítica sobre Arcane. A recepção foi tão calorosa, foi tão impactante que até mesmo o Gerente da Riot Games veio me cumprimentar e agradecer pelo texto. Fiquei muito surpreso e grato pelo feedback! Creio que como alguém que admira arte e participa da comunidade de LoL algum tempo aqui,foi bastante impactante pra mim e isso reverberou em cada palavra do meu texto.

Esse ano pretendo ser mais presente aqui sim, tenho vários projetos engatilhados na minha vida e manter o blog a todo vapor felizmente é um deles! Se você quiser me acompanhar no Twitter meu perfil é : @ferthenando.

Me sigam lá para trocarmos ideias!

No momento é a única rede social que eu uso, me sigam lá, compartilho umas groselhas gostosas de ler, e umas farpas porque afinal o que seria do meu lado rebelde sem inquietar as pessoas?! Bom a partir de hoje eu vou manter esse inicio de texto para que vocês possam dialogar comigo com esse Notas do Autor. O texto de hoje vai ser algo mais complexo, confesso que a inspiração desse texto veio de uma Thread no Twitter sobre a conjuntura da criação do Bitcoin e que isso me levou a lugares inesperados, lugares profundos e de reflexão intensa e inquietante depois de muito café e muita conversa e desenvolvimento de raciocínio eu decidi pesquisar mais e escrever um post sobre.

“Rick Morty é a melhor serie animada da cultura pop atual e posso provar”

Como de praxe não seria um texto meu se não fizesse uma mistureba de referencias filosófico-política com cultura POP não é mesmo?! Eu já elogiei e referenciei Rick e Morty em vários dos meus posts aqui no blog, dá pra perceber o tamanho da admiração que eu tenho pela obra. Acho que o sucesso da obra está no roteiro, nas tiradas sarcásticas e irônicas e todo conceito filosófico. Você pode assistir a série e desligar seu cérebro , relaxar e se divertir com a ação e as piadas engraçadas do roteiro, mas a maioria dos fãs com toda certeza gostam de apreciar as referências deixadas nos episódios. Todas tem um contexto político filosófico, pois a obra aborda tudo isso diluído em camadas de humor ácido e irônico. Você pode assistir o episódio que vou discutir aqui sem ter necessariamente assistir os outros.

Bateria esgotada conta sobre como a nave de Rick ficou sem energia. Então ele entra dentro da bateria onde ele havia criado um universo todinho e lá se desenvolveu um campo temporal modificado criando assim um planeta inteiro com uma raça alienígena inteligente com uma sociedade muito parecida com a nossa. Com uma ajudinha de Rick eles descobrem as maravilhas da eletricidade, e usam um dispositivo inventado por Rick, onde eles sapateiam e geram energia elétrica que movimenta toda a sociedade.

Microverso , um planeta inteiro criado por Rick para gerar energia para sua bateria.

Mas o que eles não sabem é que o excesso de energia é enviado para um vulcão que alimenta a bateria de Rick. Rapidamente Rick descobre o motivo de sua bateria estar sem energia: Zeep um cientista genial e arrogante igual a ele, cria a mesma tecnologia. Esse cientista buscando melhorar a vida de sua sociedade cria um universo que se desenvolve sozinho até criar vida inteligente e similar a de Rick que apresenta uma polia; um instrumento tecnológico onde os seres do mundo a movimentam e produzem energia elétrica . É claro que o excesso vai para alimentar a sociedade de Zeep para evitarem assim sapatear nas caixas de Gooble economizando energia. O que ele não sabe é que nesse Microverso de Zeep a mesma situação iria se repetir.

O episódio faz uma critica ferrenha a nossa sociedade capitalista liberal e é possível ver isso quando Morty questiona seu Avô Rick sobre o fato de existir um universo todo apenas para gerar eletricidade para a bateria do carro ser escravidão. Então Rick justifica dizendo que é uma sociedade livre, que as pessoas pagam umas as outras, trabalham umas para as outras e fazem filhos que as substituem quando morrem. E então pra terminar esse dialogo fantástico Morty termina com: ” Isso é escravidão só que com algumas coisinhas a mais!”

Microverso, Miniverso e Nanoverso, a complexidade do Horror espacial , Capitalismo liberal e da Entropia Física em apenas 22 minutos .

Nesses 22 minutos e 25 de episódio o roteiro é uma salada de referências e de discussões profundas tudo bem amarrado e fluído, onde nós como espectadores apenas rimos sem parar. Mas ao rever várias vezes até perder a conta eu consegui prestar atenção a cada detalhe, cada frase. E a principal problemática existencialista que o episódio nos leva é porque vivemos?

Ao criticar o modelo de sociedade Rick e Morty escancara o capitalismo como um ser que se alimenta de tudo que se move, e absorve a tudo e a todos. Existe um conceito na física que se chama “Entropia”- e em um resumo simples, é a energia transformada em calor que é liberado e não é transformado em energia, esse calor é dissipado no meio e não é utilizado.

Entropia, e a existência sem sentido.

Pensando em termos biológicos nossa principal fonte de energia na terra é o Sol. O sol despeja quantidades gigantescas de energia em forma de luz solar e calor e os seres vivos convertem essa energia e a utilizam de diferentes formas. As plantas por exemplo, fazem a fotossíntese. Agora imagine uma vaca…, quanto de energia uma vaca consome na totalidade da sua vida? Imagine todo o processo, e o gasto energético do organismo dela, a quantidade de capim e ração que ela consome, e quanto de energia esse capim levou para ser produzido. Agora imagine a quantidade de energia que uma vaca se transforma ao ser consumida pelo ser humano. Eu não tenho os dados precisos , mas é evidente que uma vaca consome toneladas de Jaules para se manter viva e que ao ser abatida e comida por nós ela nos fornece bem menos energia.

Tá, mas nisso estamos olhando apenas uma única vaquinha, imagine a quantidade de carne que nós seres humanos consumimos enquanto vivemos. Imagine a quantidade de porcos, frangos. Mas só para você não achar que estou tentando convencê-lo a se tornar um vegetariano ou vegano; de forma alguma, adoro carne, mas tenho consciência do que seu consumo acarreta. Agora pense em todas as coisas que consumimos e na quantidade de recursos/energia que são usados para fabrica-las. Nós seres humanos somos uma máquina sorvedora de energia e recursos, consumimos muito e quando morremos não devolvemos praticamente nada para o planeta.

O Capitalismo é um ser devorador de mundos, ele consome incessantemente a energia dos seres vivos e do universo, desde a primeira revolução industrial até o tráfico de escravizados da africa. O capitalismo sempre fez o mesmo que Rick fez com seu Microverso, utilizou e utiliza a vida de pessoas e sua energia vital para alimentar uma bateria de uma nave, ou se preferir a luz de freio dela. O conceito da entropia expõe uma dura verdade, nossa existência é um gigante desperdício de energia, e de destruição do nosso planeta. O capitalismo e o sistema em que vivemos nos estimula a viver para consumir e movimentar o sistema, a pandemia de coronavírus e os lockdown nos mostraram quão frágil é esse sistema, e que para o sistema é mais importante ele se manter, do que manter a vida das pessoas.

Se o capitalismo fosse um personagem de vídeo-games ele seria o Kirby. Kirby é uma bolotinha fofinha rosada que come incessantemente tudo e a todos. E essa pequena bolinha voraz não só absorve seus inimigos, como utiliza a energia deles para ela se replicar. O capitalismo faz o mesmo. Seja com o movimento Hippie, seja com o Rock seja com a bonequinha de round 6; ele absorve tudo, ingere, digere e os transforma em produtos lucrativos para benefício dele próprio. Essa plasticidade e adaptabilidade do capitalismo que o torna tão difícil de ser desconstruído, é difícil separar o que é nocivo de algo justo e legítimo. Só existe um organismo no mundo que pode ser comparado com o capitalismo nesse quesito que é um Vírus.

Vírus não são seres vivos, eles são moléculas que só vivem dentro de outros organismos, seu único objetivo é infectar um hospedeiro, se multiplicar e repetir o processo. E o que torna os vírus tão difíceis de serem combatidos? A sua mutabilidade. Um vírus sofre mutações e se adapta muito rapidamente para sobreviver a um ambiente hostil, não é mesmo Corona-Vírus?!

Kirby personagem de video-game

Um dos principais fios condutores de Rick e Morty e o Horror espacial é a visão de que o universo é infinito, com múltiplas realidades e que somos minúsculos, insignificantes e que nada faz sentido, que podemos ser por exemplo a bateria de um carro de um ser mais desenvolvido e superior. Um dos pontos altos do episódio é como ele aborda a alienação que o sistema capitalista e nossas instituições fazem conosco em participar dessa máquina moedora de carne. Perceba que as relações de exploração no decorrer do tempo foram sendo mantidas, mas a forma ou o disfarce sempre foram mudando, como por exemplo a palavra “colaborador” muito usada hoje em dia. Parece bonita não é mesmo? A empresa não te enxerga apenas como uma engrenagem substituível, mas como parceiro dela! Soa maravilhoso não é? Para entender esse termo é interessante voltarmos no tempo quando em 1930 o fascismo de Mussolini pairava sobre a Itália, onde ele a comandava com mãos de ferro. Um dos pilares do fascismo é o termo Colaboração de classes, que é usado em oposição ao que os marxistas chamam de Luta de classes. Ao invés de haver um enfrentamento da classe baixa contra a classe alta, ambas aceitaram seus papéis a desempenhar e o objetivo final éra a coesão da sociedade e do estado.

O termo fascismo, segundo a definição da Wikipedia é : Derivado da palavra em latim fasces, que designava um feixe de varas amarradas em volta de um machado, e que foi um símbolo do poder conferido aos magistrados na República Romana, de flagelar e decapitar cidadãos desobedientes. A ideologia do fascismo tem vários conceitos chave, e um deles é essa coesão harmônica entre pobres e ricos, em prol da hierarquia, da paz e prosperidade da nação. Além de possuir todo um pacote de ideias de Eugenismo como limpeza étnica , de um estado forte patriótico que luta contra as forças do mal ( normalmente comunistas e terroristas aqui) .

Simbolo do facismo, um feiche de varas amarradas com uma lamina de machado. Simbolizando a coesão e hierarquia social e a oposição a inimigos do sistema.

Essa idéia de que as diferenças entre os homens seria benéfica para a sociedade não nasceu com Mussolini, aliás ela é muito mais antiga. Podemos encontrar na filosofia do Cosmos de Aristóteles a idéia de que todos somos parte de um sistema maior e que todos temos um propósito. O universo ou o Cosmos precisa que você faça seu papel, por mais minúsculo que seja em prol de seu funcionamento. Você não pode se revoltar ou tentar mudar sua situação porque afinal é seu destino!

A idéia de liberdade nas relações de trabalho, onde você é seu próprio patrão, onde você é livre para escolher seu emprego, livre para tomar todas suas decisões é ridícula em vários níveis. Não só para a Psicologia , quanto para a filosofia ou qualquer área do pensamento humano. Somos escravos de nosso inconsciente e somos reféns das condições dos meios em que nascemos, nosso corpo define o que nós pensamos e se nos alimentamos mal, se não dormimos bem, se passamos por stress ou picos de adrenalina constantemente tudo que nosso corpo vai querer é evitar essa situação. Não existe liberdade para empreender quando se esta lutando contra a fome, quando se luta para não ser assaltado e para apenas conseguir se manter vivo funcionando dentro do sistema, no fim não temos tanta liberdade assim como imaginamos que temos.

O capitalismo se reinventa, ele absorve as coisas que tentam combatê-lo e as usa para gerar lucro. Ele se adapta, ele consome e muda, como uma força sorvedora de mundos. Seja em forma de energia de calor, ou nas relações sociais, o capitalismo sempre se disfarça , se transforma em algo mais palatável, em uma forma mais plástica para ele não parecer ” escravidão só que com algumas coisinhas a mais”. No fim desconstruir o capitalismo é algo complexo e difícil, talvez seja um gasto de energia maior do que o próprio já utiliza, e talvez seja mais sábio saber de sua existência e seu funcionamento para não imitarmos Rick e Morty e nos tornarmos escravos que só existem para virar energia para ascender a luz de freio de alguém.

Fernando

33 anos, Professor, Historiador, Gamer e Escritor. Fascinado pelo universo Geek e Pop. Leitor, fã de música e cinéfilo. Pai de um rapazinho e uma mocinha. Em horas vagas escreve neste blog. Me sigam no twitter @ferthenando e no Instagram @ferthenando18

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