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Olá meu querido leitor! Esse 2021 passou e tivemos mais um ano de pandemia, sinto que escrevi pouco esse ano, e realmente não tenho sido muito produtivo. Particularmente ter sobrevivido esse ano, voltar a trabalhar e dar andamento, mesmo que lento, a minha vida foi um grande avanço para mim, em épocas turbulentas com tantas perdas, com tantas pessoas em estado de insegurança alimentar, pequenas vitórias se tornam gigantes. Enfim desejo a todos um Feliz ano novo, e que em 2022 nossas resoluções possam ser maiores, que a gente consiga se estabilizar e que possamos voltar a sonhar alto de novo!

O texto de hoje é uma analise da série Arcane que está disponível na Netflix. No futuro pretendo fazer uma analise mais filosófica e sociológica sobre a obra, mas por hoje a analise se propõe a enxergar Arcane não só como uma obra prima audiovisual, mas também como uma ode aos jogadores de League of Legends. Um marco na cultura POP e uma solidificação dos jogos eletrônicos online e de uma marca na cultura POP.

Pôster de divulgação de Arcane

Eu sempre joguei League of Legends, sempre gostei do jogo, foi um jogo que me encantou com seu universo, com suas histórias , me trouxe vários amigos e várias horas de risada e diversão, apesar de ser um jogo bastante estressante e competitivo existem momentos em que o jogo é tão divertido que você não ligava de ganhar ou perder. O tempo foi passando e o jogo se tornou parte da minha vida, nunca me senti envergonhado de jogar o jogo, e sempre aceitei o deboche da comunidade com o jogo e com ela mesma, sem entender o motivo. Um comportamento de massas embasado em machismo e utilitarismo. Jogar o joguinho era coisa de nerd, vagabundo, de adolescente que ficava só trancado no quarto e não pegava mulher, de pessoa anti social e toda sorte de preconceitos. Hoje 10 anos depois o jogo virou uma franquia, um universo e se expandiu através de outros jogos, e outras mídias. Todo o carinho e cuidado que a Riot teve desde o inicio em ouvir os jogadores e fomentar o cenário de e-sports transformou o jogo numa marca solida da cultura pop e quebrou um tabu e continua quebrando que esporte não precisa ser apenas de contato físico.

Ver a reação das pessoas recebendo Arcane. Ver a obra sendo um sucesso, só recompensa todo tempo investido, todas as horas de frustração e todo tipo de duvidas e preconceitos que várias pessoas sofreram durante anos por acreditar num joguinho maravilhoso que é o tal de League of Legends. Arcane foi um triunfo da cultura pop, um triunfo da paixão pelos jogos e por mundos de fantasia, sobre o machismo, sobre o utilitarismo do capitalismo, pessoas que nunca jogariam o jogo, que nunca jogaram, pessoas que julgaram um dia ser um joguinho de crianças assistindo Arcane e aplaudindo é um sentimento de que vencemos, é a recompensa de ter acreditado e se dedicado tantas horas em frente a tela do pc.

Os de cima e os de baixo

Tá bom, mas afinal sobre o que é essa série Arcane? Arcane é uma história de duas personagens do LoL, Jinx e Vi. E sobre a origem delas, um como tudo começou. A história se passa nas cidades gêmeas Piltover e Zaun. Piltover é a cidade do progresso, uma sociedade rica industrializada vivendo o progresso tecnológico, com uma academia com as maiores mentes científicas do mundo ela fica no topo de um desfiladeiro e por isso é chamada de cidade alta. Além dela existe a cidade de Zaun ou a subferia; É literalmente a periferia de Piltover, ela fica na parte mais baixa do desfiladeiro onde entra pouca luz. Os habitantes da subferia sobrevivem dos restos de sucata tecnológica de Piltover. A cidade é escura e coberta de fumaça vinda das chaminés da cidade alta , quanto mais ao fundo do desfiladeiro, mais pobres são os habitantes da subferia. Piltover é rica e elitista, a subferia é pobre e serve apenas aos interesses escusos de um governo de poucos , poderia resumir a história apenas no trecho de Bombom Ximbom de As Meninas: ” E o motivo todo mundo já conhece é que o de cima sobe e o de baixo desce.” É nesse contexto que é nos apresentado as irmãs Powder e Vi. As duas ficam órfãs na primeira cena e são acolhidas por Vander, um pugilista que torna-se o líder da subferia e um pai para as garotas.

Zaun é um grande distrito subterrâneo, aos pés de cânions profundos e vales que cortam Piltover. A pouca luz que chega é filtrada pelas fumaças que saem dos canos corroídos.

Todo esse contexto social, e explicado na séries diluído de forma que não é empurrado, os personagens também são bastante expressivos, em várias cenas é possível inferir o que eles estão sentindo apenas pelos trejeitos e o apelo visual da cena. É uma abordagem inteligente da direção onde você mostra mas não conta. Você consegue entender a personalidade de Vi e de Powder sem explicações previas. Essa abordagem não só e mais interessante como mais madura. O diretor deixa a própria audiência inferir sozinha o que esta acontecendo sem ter que explicar necessariamente o que se passa. Tudo isso de uma forma bastante fluida, sem te deixar perdido ou sem te entediar nos desenvolvimento da série.

A série é extremamente bem feita, com animações e fotografias impecáveis, e com um arco narrativo denso e profundo que mostra a transformação de Powder em Jinx e explica como elas viriam a se tornar as campeãs em League of Legends. Mesmo que você nunca tenha jogado o jogo, e jamais tenha ouvido falar do universo de Runeterra, a série é tão bem feita com uma qualidade tão incrível que você consegue aproveita-la perfeitamente. Para os fãs é claro a série deixa várias referencias a personagens e itens do jogo, as cenas de ação são muito bem feitas, a trilha sonora impecável não é atoa que a série ultrapassou Round 6 rapidamente e tem uma nota altíssima no Rotten Tomatoes e no iMDb.

A fotografia de Arcane é maravilhosa, cada cena é uma tela pintada por si só.

Não que apenas essas métricas desses sites possam medir todas as sutilezas e te dizer se uma obra é realmente boa, mas pelo fato delas delas estarem altas é sim mais um indicativo que Arcane superou todas expectativas . Já tem vários Cineastas, produtores musicais elogiando Arcane como uma obra de arte. Milhares de vídeos no Youtube analisando vários aspectos que vão aspectos psicológicos do personagem, aspectos narrativos do roteiro, fotografia, animação, produção sonora, referencias ao jogo, contexto sociológico e filosófico da obra e por fim analise da série como produto de entretenimento, e sim todos eles fazem elogios em cada aspecto trabalhado, e detalham o capricho e carinho que a Riot e o studio Fortiche empreenderam na animação, afinal foram 6 anos para produzir e divulgar Arcane.

Sobre a divulgação de Arcane, a série foi anunciada em 2019 no aniversário de 10 anos de League of Legends. A empresa divulgou em trailers , em telões na time square em Nova Iorque, e ate mesmo no metrô de São Paulo e do Rio de Janeiro no Brasil. Tudo para criar um clima de imersão na série convidando o publico a adentrar a esse mundo cheio de intrigas e disparidades que é Arcane. A série Arcane começou na realidade quando a Riot fez uma animação Get Jinxed em parceria com o studio Fortiche o mesmo que viria a fazer várias de suas animações nos anos seguintes incluindo KDA- Pop Stars e Arcane.

A Riot foi uma das primeiras empresas a fazer um Cross mídia de qualidade impecável. Criar uma animação em forma de clipe para lançar um single de um grupo de K-pop fictício dos personagens do jogo para vender as roupinhas. Com uma qualidade de animação e de produção musical de dar inveja a vários produtores musicais. Essa dedicação e capricho provou-se bastante recompensador a longo prazo, pois foi o que manteve e mantém a empresa mesmo após 10 anos como a mais relevante empresa de jogos da atualidade, e segundo as intenções da própria empresa, da próxima década também!

Grupo de Kpop ficticio KDA das personagens do jogo League of Legends em seu clipe POP Stars.

É óbvio que a Riot como empresa mira os lucros, é óbvio que ela quer engajamento com o público e planeja fazer isso pela próxima década, por muitos anos League of Legends foi o único jogo e a única mídia desenvolvida pela empresa. Hoje a Riot tem títulos como Team fight Tatics(TFT), Legends of Runeterra(LoR), Valorant(Vavá) e o próprio League of Legends. A empresa tem ainda em produção um jogo de luta feito com personagens de League of Legends e um futuro MMO que é um RPG de mundo aberto onde você cria seu personagem, explora o mundo e progride ele quanto mais tempo você joga, além de explorar esse universo e interagir com sua história. Arcane como todos os produtos feitos pela Riot mostram um excesso de cuidado e capricho de seus produtores, essa é a formula dos sucesso da Riot, ser meticulosa, prestar atenção aos detalhes, ouvir sua comunidade e acima de tudo usar a localização regional como acessibilidade. Localização é a dublagem e tradução dos produtos originais produzidos em inglês para os idiomas e cultura de cada região. Nesse sentido a equipe brasileira do jogo merece um destaque, pois ela tem muito cuidado e empenho em trazer algo fidedigno de qualidade e que corresponda a nossa cultura local, sempre com dublagens impecáveis e encantadoras que fazem você se apaixonar e se identificar com os personagens.

Se você não assistiu Arcane por preconceito ou por medo de não entender nada, pode ir sem medo que a série faz jus a todo Hype criado ao seu redor. É uma série bastante fluida com fotografias e cenas de tirarem o fôlego, personagens expressivos e com um roteiro envolvente que não te deixa ficar entediado hora nenhuma. Eu como fã da franquia, fã de cultura pop e de cinema, fiquei emocionado e me senti presenteado com essa obra prima. O maior mérito da obra está em não só ser mais uma mídia falando do universo de League of Legends, em ser primorosa em todos aspectos que se propôs mas em consolidar os jogos como um meio de interação e diversão , em consolidar a marca e validar todo um publico que existe e cresce a cada dia mais e dizer que sim mesmo existindo uma barreira de preconceitos diários que é o publico gamer, publico nerd que consome esse tipo de mídia e que interage nas redes. Arcane foi o triunfo não só de uma empresa em emplacar seu produto num mercado competitivo. Mas foi o triunfo de toda uma comunidade que em sua maioria marginalizada nunca deixou de sonhar e se divertir com um joguinho, afinal não é apenas um joguinho, é só uma série?! Nunca é!



Fernando

33 anos, Professor, Historiador, Gamer e Escritor. Fascinado pelo universo Geek e Pop. Leitor, fã de música e cinéfilo. Pai de um rapazinho e uma mocinha. Em horas vagas escreve neste blog. Me sigam no twitter @ferthenando e no Instagram @ferthenando18

Um comentário

  • Pedro disse:

    Ótimo texto, compartilho totalmente da opinião e, em especial, da sensação de ver um jogo que tenho tanto carinho se materializando em algo de uma dimensão ainda maior! Parabéns pela escrita.

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