Olá meus queridos Rabitters! Como vocês estão ?! Hoje eu vou dar continuação à segunda parte do post que comecei a algumas semanas atrás, o qual você pode conferir clicando nesse link aqui :Além do bem e do Mal (parte 01). Bom, nessa série estamos abordando o tema da moral e da sua relatividade e, se na primeira parte falamos sobre o conceito de Herói , então agora é a hora de abordarmos o conceito oposto e definirmos o que é um Vilão! Mas quem seria ele? Para falarmos de vilão temos que abordar o conceito fundamental que difere cada um desses paradigmas antagônicos: a moral! Então se acomode na sua confortável poltrona, pegue seu delicioso café quente e vamos escorregar pela toca!
O que é a Moral?
“O Homem sempre é guiado por seus desejos, e na busca de sua satisfação só se detém diante de obstáculos externos.” Thomas Hobbes
Se considerarmos a frase de Hobbes sobre o homem ser o lobo do homem, como seria possível convivermos em sociedade sem nos matarmos? Uma das mais clássicas respostas a essa questão é a Teoria Contratualista (Contrato Social). Segundo ela as normas, as obrigações morais e a vida em sociedade dependem de um acordo, em grande parte, entre os partícipes de uma comunidade. Então a moral seria um contrato não explícito, um conjunto de regras que devem ser seguidas em prol de uma coesão social, em que a quebra dessa moral acarretaria em vexação ou em isolamento do indivíduo do grupo. Não é preciso ir longe para constatar que cada grupo cria suas próprias regras, logo, a moral não é algo universal (Comer carne de vaca aqui no Brasil é moralmente aceito, comer carne de vaca na Índia não).
O Vilão, em contraste ao herói seria uma pessoa imoral, que toma suas atitudes com base em seus próprios valores. Em virtude disso, qualquer um poderia ser vilão ou herói com base em Suas atitudes e suas escolhas. O pensamento cristão consolidou na coletividade o a doutrina do Maniqueísmo (o eterno confronto do bem contra o mal) então as pessoas encontram esses antagonismos o tempo todo; as suas religiões, as suas ideologias propagam isso e, como toda boa relação de maniqueísmo, é preciso ter os super-heróis que vão “mitar” derrotando os vilões perversos e malvados que querem destruir o mundo! O objetivo de dominação mundial é tão controverso e tão surreal que os próprios artistas brincam com a ideia, e fizeram um desenho sobre dois adoráveis ratinhos que se reúnem para dominar o mundo! Será que existe algum rabbiter que não conhece Pink e Cérebro? Os fins justificam os meios
Para entender melhor a imoralidade dos vilões temos que recorrer ao bom e velho Nicky (Nicolau Maquiavel) . Antes de Maquiavel a política na sociedade ocidental tinha fortes ligações com o cristianismo (catolicismo) e nem é preciso dizer as implicações negativas que ocorrem quando se mistura religião e política, não é mesmo?! Com a publicação do livro O príncipe, em 1532 após a morte de seu autor, inaugura-se então o início do pensamento moderno, e o que seria a base das relações humanas e políticas até hoje. Em um futuro próximo pretendo fazer outros artigos sobre Maquiavel e sua obra, porém, para entender o vilão é preciso entender o pragmatismo desse pensador, a que erroneamente atribuíram-lhe a frase: ” Os Fins justificam os Meios.” Para Maquiavel, um Governante tem de fazer o que for necessário para se conservar no poder mesmo que isso o obrigue a tomar atitudes imorais em prol do seu povo. Na visão dele, é necessário fazer um pequeno mal para um bem maior! Esse pensamento pragmático ganhou força na modernidade e não é difícil achar implicações do pragmatismo mesmo hoje em dia entre os cristãos: ” Matar um bandido é fazer um pequeno mal, para um bem maior(impedir que ele cometa mal a mais pessoas).”
Existem vários desenhos, filmes e livros que retratam essa característica pragmática dos vilões e os melhores vilões compartilham do pragmatismo e da sua característica egoísta, como Thanos em Vingadores A Guerra Infinita, Bertrand Zobrist no livro Inferno de Dan Brown, e mesmo Ozymandias em Watchmen. Todos eles são vilões que estariam dispostos a “quebrar os ovos para se fazer o omelete”, a realizar toda e qualquer ação que possa inclusive tirar tudo o que lhes é precioso em prol do “bem maior”. Matar milhões para salvar Bilhões, essa é a lógica!
Nesse sentido, o jogo de cartas Magic the Gathering é outra mídia que evidencia ainda mais esses pontos importantes discutidos até agora. O formato do jogo dividiu as suas cartas em cinco cores,: branco, azul, preto, vermelho e verde, que representam filosofias e aspectos do mundo como um todo, constantemente dialogando entre si. Nos primeiros estágios de desenvolvimento do jogo, em 1993 a cor preta era usada para representar o mal, mas o designer chefe Mark Rosewater remodelou essa cor para representar justamente o aspecto egoísta e pragmático do ser humano. Dessa forma, a cor preta nada mais é do que uma pessoa que está em busca de melhorar a si mesma e obter poder, e para isso ela está disposta a sacrificar o que for preciso! A imagem de destaque desse post é inclusive a arte de uma famosa carta de Magic the Gathering, chamada Confidente Sombrio, e nela temos uma frase de efeito icônica, que também coloquei aqui: (Greatness at any cost!).
Se você vive num país extremamente cristão você já deve ter ouvido falar do famoso “pacto com o diabo”( Oi Xuxa?!), onde as pessoas supostamente venderiam sua alma em troca de grandes “poderes“. A despeito de toda babaquice do pacto com o diabo, eu o usei para ilustrar que pragmatismo e utilitarismo andam sempre de mãos dadas. E que algumas pessoas estão dispostas sim a sacrificar algo para atingir um ” bem maior”. O príncipe Vlad do filme Drácula a História Nunca Contada (2014), para salvar seu povo do terrível sultão turco, buscou o poder necessário para proteger aqueles que amava, mesmo que isso o transformasse em um monstro, em um Vampiro!
Uma das animações Japonesas que mais gosto é o clássico Death Note, que conta a história do jovem Yagami Raito. Inteligentíssimo e pragmático, o personagem certo dia descobre um caderno sobrenatural que os Shinigamis (Deuses da morte) escrevem o nome dos seres humanos. Então, em posse do caderno Raito começa um plano de tornar um mundo um lugar melhor, pagando o custo que fosse preciso para criar uma nova ordem de paz no mundo. O próprio desenho faz uma crítica a respeito do pragmatismo de Raito e dos assassinatos que ele comete em prol de seu novo mundo.
Watchmen é outra obra que coloca em questão os problemas da moral e do pragmatismo, em que um herói como o Comediante e Ozymandias podem ser facilmente confundidos com vilões dependendo do ponto de vista. Batman é um super-herói ou um vilão? Depende! Se o Batman entrasse em sua casa e matasse seu pai perseguindo um bandido ele estaria agindo seguindo os preceitos dele (fazer um pequeno mal em prol de um bem maior) todavia, ele teria cometido um assassinato , algo imoral e, portanto, poderia ser considerado um vilão, então ele não se tornaria melhor ou pior do que o bandido que ele procura.
Nos dias de hoje, independente da sua filosofia de vida e de suas ações, tenha em mente que elas podem ser ruins, por isso não podemos usar nossos valores para julgar os outros, porque em nome da moral e dos bons costumes as maiores monstruosidades já foram cometidas por “Gente de Bem“. Então até o Escolhido, o garoto que traria o equilíbrio a força! Mesmo o bondoso Anakin Skywalker, buscando salvar Padmé e seus filhos, buscou o poder necessário, entregando-se ao lado negro da força, em prol de um bem maior ele fez um ” pequeno” mal de matar crianças a serviço do Imperador. No fim, se analisarmos a fundo quando um policial dispara uma arma numa perseguição contra um bandido e acerta uma bala perdida em um morador, se consideramos os valores morais fica difícil dizer quem é o bandido. A realidade é que no fim não é possível diferenciar, somos todos heróis e ao mesmo tempo vilões!
” Quis custodiet ipsos custodes? Quem vigiará os Vigilantes?”